sábado, 17 de outubro de 2009

Loucuras Entre Aspas


Duas horas da manhã é sempre um momento dilemático pra escrever. Ao som de um playlist relax do computador com a luz na cara e o som da geladeira gelando ao fundo. Dois meses e meio e tudo mudou. O tempo pra escrever vai se estreitando. A quantidade de backspaces para apagar os ‘j’ de viajem e os acentos errados aumentam na mesma medida que o tempo para achar as palavras certas.

Acabou o calor, acabaram os trinta e poucos graus. Começaram as temperaturas de um dígito, com e sem traço. Acabou a moleza de início de aulas introdutórias. Começou a moleza das 7 e meia da manhã, de acordar e se esquentar. Dispersaram os grupos de gringos. Começaram os cafés entre aulas. Começa a fumaça de frio saudável e se junta à constante fumaça do vício europeu. Vejo como se fosse parte do Réquiem para um Sonho. Fim de aula. Corta. Enrola cigarrinho (com barulho de papel ao fundo). Corta. Fumaça (com barulho de sopro ao fundo). Corta. Murmuros incompreensíveis ao fundo. Corta. Risos. Corta. Olhar pro relógio. Corta. Última inspiração e último sopro de fumaça. Corta. Corridinha pra chegar na sala antes do professor. Corta. Bate a porta e um suspiro profundo. Chicletinho na boca, gostinho bom, nada aconteceu.

A cozinha aqui de casa se resumiu em uma verdadeira franquia do Spoleto. Macarrões diversos com um molho diferente para cada dia. O estômago e a geladeira às vezes reclamam roncando, mas se acalmam depois de serem ignorados.

Semana que vem encaro a Escandinávia. Sozinho com os sofás alheios pela primeira vez durante tanto tempo. Como tudo é muito caro por lá, resolvi adotar a tática do couchsurfing que me parece afinal, uma ótima idéia, salvo algumas fotos de perfis bizarras (quem sabe a minha também(?!)). Bem, pelo menos já hospedei duas inglesas simpáticas e fui hospedado por um casal não menos simpático, mas um pouco mais paradado. O suficiente para me sentir mais confiante.

As conversas de skype servem como um jornal das 8, só que sem novela depois. Às vezes entra também um horário político no meio para atrapalhar. As propagandas enchem o saco, só que o fast forward não funciona em tempo real. Nem pra frente nem pra trás, algumas vezes em slow motion, parece que eu me repito e os discos arranham.

Dois meses e meio e algumas coisas não mudaram. Ainda conto o número de afazeres do dia, me lembro do número mas esqueço o que cada um significava; ainda oscilo; ainda não faço a cama só pra mim; ainda acho que todo mundo entende o que eu digo só d’eu pensar; aindinvento; ainda tento rimar; indo acerto; vindo erro; e ainda encho o saco de mim mesmo quando escrevo.