sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Os jardins do canal que se bifurca

Aqui em Toulouse enfim. Por enquanto tudo um pouco vazio, com muitos estrangeiros. Se, ao chegar no aeroporto, não fosse o Artur, provavelmente dormiria no gramado do campus. Tudo aqui, ou quase, está fechado depois das 17 horas. Estou sem internet no meu quarto temporário e, pelo visto, sairei daqui mais rápido que a vinda da tecnologia. Em setembro, em meio a alguns sarcasmos dos burocratas franceses, farei minha segunda mudança de apartamento.
Meu corpo anda ocupado pelas idas e voltas entre o campus e o meu apartamento. Ao longo do Canal do Midi, meu percurso agora rotineiro me apresenta surpresas a cada dia. Desde um senhor me oferecendo um picolé de chocolate que sobrara de sua gula até um cachorro surtado, atacando um corredor que passa perto de seu dono que, por acaso, tentava me passar uma informação. O centro daqui me desapontou um pouco. Bem verdade que não pude ter uma visão completa da cidade ainda. Aqui a humanidade não muda. Há mendigos, pixações, pouca iluminação, playboys e hippies, gente fina e grossa, altos e baixos. Aqui, até onde vi, algumas mudanças em relação ao meu cotidiano carioca: não se fuma em lugares fechados, pouco lixo na rua, não há assaltos (até agora e até onde me falaram). Personagens inimagináveis como cortadores de grama que já viajaram pela américa do sul, africanos árabes, brasileiros, asiáticos e, por fim, franceses. Num clima nômade, como kebabs e Quicks que me fazem lembrar de outras viagens. Num clima nômade, carrego os pacotes de papelão com a mudança, na tentativa de me tornar sedentário. Mês que vem a cena se repete, os franceses rindo do meu esporte de carregamento de mala e utensílios domésticos e eu os observando com indiferença se divertindo ao jogar bocha. Como faz falta um caminhao de mudança!
Meu quarto sofreu uma evolução. Com a ajuda sempre bem-vinda de brasileiros acolhedores e de franceses solidário, construo a minha “organização” de utensílios caseiros. O custo de vida aqui me parece um pouco mais caro que o do Rio, surpresa desagradável. O Euro vale ouro. Até pela sacola de supermercado aqui se pega, aqui se paga. Fui de casa sem nada para casa com tudo. Contudo, tenho a impressão de que ainda falta algo, mesmo após as panelas, ventilador, talheres, panos e lixeiras.No final do Canal do Midi, em meio às árvores de seus jardins, uma bifurcação no fim. Sigo pela esquerda. Quando durante a noite, tudo escuro. A solidão de não ter ninguém comigo naquele momento. Essas obviedades me acompanham nesse caminho que percorro, e que sei que percorrerei de volta. No silêncio sinto, e até escuto as batidas do coração. No fundo ele grita pois também está sozinho naquele momento. Estou me adaptando, mas me sinto um pouco indiferente. Sei que tenho toda a ajuda possível aqui mas, ainda assim, não sei por quê, me sinto indiferente.

5 comentários:

  1. indiferente
    adj. 2 gén.
    1. Que tem ou manifesta indiferença.
    2. Que não desperta interesse.
    3. Desapaixonado.
    4. Frio.
    5. Indolente; apático.
    6. Que não aplaude nem censura opiniões ou crenças desencontradas.

    acredito que possa ter um pouco dessa indiferença, mas acho que a sua é diferente. Você sempre fez escolhas certas; bifurcações são cosquinhas a essa altura. Siga em frentee.

    braços!!

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  2. Esse é meu primeiro post aqui, mas provavelmente o primeiro de muitos.

    Creio eu, que essa indiferença no início seja normal, pois você está passando por uma grande mudança relacionada a tudo. Não que isso seja ruim, muito pelo contrário, porque o desconhecido, o novo significa: Novas amizades, novos lugares, conhecimento, viagens, culturas diferentes, ou seja, tudo que você gosta e te acrescenta tanto pessoalmente como intelectualmente. Essa experiência que você está vivendo é para poucos, orgulhasse disso, veja como você é um VENCEDOR, LUTADOR pelos seus objetivos, estou orgulhoso de você, PARABÉNS!! Acorde todos os dias, e pense: "nossa como tudo isso está sendo enriquecedor para mim", por mais que dois anos pareça muito, pense em pequenos passos agora e coisas simples, dificuldades, dor infelizmente também faz parte do processo mas não é permanente, como tudo que você vai conquistar nessa nova experiência. Apesar da distância, nada é longe quando se tem amor e vontade. Eu digo isso, porque mesmo você estando "longe", com vontade, em menos de um dia posso estar ae do seu lado meu amigo. Abraçando-te, ouvindo e rindo das suas novas experiências, e admirando seu crescimento. Siga em frente[3], que você está no caminho certo, no caminho do sucesso, no caminho do crescimento...

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  3. Meu querido. É natural a sua indiferença nessa fase de adaptação. Tudo é novo. Sem muitas amizades ainda. Você viajou sozinho, está conhecendo o seu novo ambiênte. Saiu da sua cidade, sua casa, deixando a família, amigos, namorada... deixando saudades. Tendo saudades... 21 anos no Brasil... é normalíssimo! Mas logo você vai se acostumando com a nova vida, nova cultura. Espera começar as aulas, aí serão mais novidades, quando você perceber, vai estar adaptado aos novos costumes, dominando melhor o frances, envolvido em novas amizades, Aos poucos, tudo fará diferença pra você...
    Tenho certeza que você vai se dar muito bem.
    Você é perceverante, inteligênte...
    Foca nessa nova experiência de vida. Ela é única! Aproveite ao máximo!
    Saudades... Beijos...

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  4. Calminha aí, Edgar. Acho que vc tá indo muito bem, e ainda vai melhorar. Um escurinho no caminho às vezes faz bem, assim como o silêncio no coração. A gente é que se acostumou ao burburinho, não? Vc nem faz ideia do silêncio que é no paraíso, hehe. Beijão!

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  5. O branco é a mistura de todas as cores. Talvez a indiferença seja a mistura de todos os sentimentos.
    Beijo e saudade.

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