segunda-feira, 26 de julho de 2010

Com o verão, outras coisas vêm também…

São 10 :00 de um 9 de Julho de 2010. Como se tivessem vários! Pois é, estou escrevendo do estágio, em pleno verão Toulousain, apesar de hoje ser o primeiro dia nublado em semanas! O calor volta a ser como aquele de um ano atrás quando cheguei na Cidade Rosa. A situação se torna parecida a medida que todos os que conheci começam a partir esse mês, depois de 6 meses ou um ano de estadia. Ficam os franceses que conheci, os de duplo-diploma e as lembranças.

Algumas várias novidades. Desde o meu último relato fiz algumas pequenas viagens. Resolvi aproveitar as oportunidades que surgiram na transição primavera/verão europeu, principalmente os vários shows e festivais que acontecem por aqui nessa época! Fui para a Antuérpia com o Artur ver o show do Eric Clapton e Steve Winwood, que aliás seria mais para Steve Winwood e Eric Clapton, a vovó do blues! Momentos inesquecíveis, como a nossa estadia de couchsurfing com 2 belgas locais e mais outras que vieram sábado a noite desde Gent fazer a festa com a gente. Essas, tínhamos conhecido em Biarritz há mais ou menos 8 meses. Foi tudo literalmente show! O clima que esquentou depois do longo período do inverno, o show em si (apesar do Steve Winwood ter feito o solo de Layla e do show não ter tido bis…) e a cidade, muito irada!

Depois disso, embalado pela reta final dos estudos e pelo acúmulo de provas, trabalhos e projetos, tive uma vida de nerd no fim de maio e em de Junho. Valeu a pena, pois consegui passar em tudo e ficar livre do « Julgamento » do jury de final de ano do INSA.

Seguindo a onda dos festivais, eis que surge o Hard Rock Calling, onde ninguém mais ninguém menos que Sir Paul Mccartney iria tocar! Já tinha planejado uma semana de férias antes de começar a estagiar e resolvi fazer um tour pelo UK, que ainda não conhecia. Tudo estava arranjado para irmos eu e Kit , um amigo americano, a Dublin, Edimburgo, Glasgow e Londres. Passagens compradas e tudo! No entanto, no último momento Kit começou a ter um problema no joelho que o impediu de viajar. Solução? Couchsurfing sozinho no UK! Segunda experiência desse tipo que eu teria. Percebi que não era tão fácil arranjar abrigo por essas bandas, mas, no fim, um grupo de brasileiros me acolheu em Dublin e um judeu inglês em Edimburgo. Em Londres todavia ainda não tínhamos lugar para ficar e a expectativa era grande para o show!

Finalmente cheguei em Dublin e, surpreendentemente sem encrencas na imigração, entrei no país. Alias, fiquei bastante surpreso com a quantidade de brasileiros que tem nessa cidade. Papo de se escutar o português na rua toda vez que saíamos. Correu tudo muito bem por lá. Eram cinco brasileiros na casa mais eu, portanto o clima da copa tava garantido! Ah, sim, nesse momento o vexame escandaloso da França na Copa já tinha sido cravado no mármore! Conhecemos inúmeros pubs, pois é o que se tem que fazer lá. Tive também um bom tempo para conhecer a cidade em si e até umas praias do lado, já que eu fiquei 5 dias lá. Entre altinhas no parque, pós-nights e muitos pubs, bateu em mim o momento criança e resolvi comprar uma máquina de peidos em uma loja de souvenirs bizarros. Infelizmente a máquina que eu comprei era a versão 1, ao contrário da quase realística versão 2 do Thomas (um dos brasileiros da casa). Pois é, decepção de criança. Vimos o jogo do Brasil contra a Costa do Marfim, (adivinhem onde?) e com nossa vitoria eu estava embalado para poder seguir viagem.

Chegando em Edimburgo (ou Edimbra para os Britânicos) de Ryan Air, acordei o couchsurfer
às 9:00 e fomos tomar café da manhã em um barzinho bem simpático ali do lado. Saiu barato, por mais incrível que possa parecer! Na casa dele eu realmente estava no luxo! Quarto com cama de casal e banheiro só pra mim com xampu (o meu tinha ficado no aeroporto de Toulouse: garoteada) e sabão (que tinha acabado em Dublin)! Como ele tinha oferecido, caíram bem os acessórios de higiene! Agora, Edimburgo é show; e, para continuar no luxo, fizemos um tour de conversível pela cidade. Fizemos também uma trilha ate o topo de uma montanha que oferecia uma vista incrível da cidade. Mais uma vez dei sorte com o tempo! Céu azul no fog britânico! Fomos para um bar de jazz muito bom e com o nome criativo de « the jazz bar ». Como era meio de semana, a noite não estava muito agitada e acabamos visitando um bar legal que parecia prometer bem mais nos fins de semana : « voodoo bar ». Como o Meir (cara que me hospedou) não trabalhava em um horário fixo, tivemos tempo de ir até St. Andrews, uma cidade praiana bem simpática onde o ex primeiro ministro Gordon Brown tem uma casa. No caminho, passamos por vários campos de golfe e casinhas de interior, coisa que nenhum passeio turístico que o tourism office me indicou oferecia. Confesso que foi melhor que ter ido para o Lago Ness em uma excursão cheia de japoneses-fotógrafos e especular sobre um monstro imaginário. Momento copa: Inglaterra ganhou da Suécia e os EUA passaram para as oitavas com um gol de ultimo minuto! Tudo isso no home theater da casa do cara! De lá segui rumo a Londres, tendo falado com a Bea e supostamente garantido um lugar pra ficar.

Quarta vez em Londres mas apenas a segunda que eu fiquei mais de um dia. Chegando la, encontrei com a Bea para assistir o jogo BrasilxPortugal e esperar o Henrique que chegaria mais tarde. Chegando no bar vi que a Bea tava meio enrolada e que na verdade não era muito conveniente ficarmos na casa dela. O Brasil tendo empatado em 0 a 0, a Espanha tendo ganho e o Henrique chegado, tentamos reservar um albergue de ultima hora para podermos sair tranquilamente nas nights londrinas, ate então desconhecidas por mim. Nada feito. Tudo lotado ate Domingo. Dormimos na casa da Bea mesmo e no dia seguinte ela tinha que sair cedo e chegar tarde, então ficamos o dia todo na rua. Fomos para alguns parques, o Henrique foi no museu do Churchill e eu dei mais uma volta por essa cidade incrível! Eu me amarro em Londres! As pessoas são simpáticas e tem sempre movimento e coisas para fazer. Para quem quer um canto mais tranquilo, tem um em cada parque! No final da história vimos a derrota dos EUA frente a Gana na copa do mundo e voltamos para a casa da Bea meia noite, quando ela chegou, e não saímos pois não estávamos devidamente vestidos. Conseguimos um albergue para Domingo, dia do show. Acordamos e fomos direto para lá pois o show deveria começar às 13:00. Albergue nada demais exceto pela infra-estrutura. O staff não foi muito útil nem o ambiente estava muito animado. De qualquer forma fomos direto para o show e, sob um sol castigante, chegamos no Hyde Park, cede do show, e percebemos que o lugar estava praticamente vazio! Bizarro para um show do Paul Mccartney! De fato chegamos lá e descobrimos que haveria algo como 5 bandas de abertura, dentre as quais Elvis Costelo e Crosby, Still & Nash. Tínhamos apenas uma garrafa d'água de 1,5L e, moral da história, o parque foi enchendo e tivemos que sair 2 vezes no meio da multidão para enchê-la e para comer algo! Finalmente chegou o grande momento, com o publico cantando o na-na-na-na de Hey Jude antes do dito cujo entrar no palco. E la estávamos, à 30 metros do palco quando ele entrou! Foi quase uma histeria digna dos tempos de Beatles com todo mundo cantando todas as músicas. Bem verdade que durante algumas músicas da carreira solo, o coro diminuia a intensidade. Como brasileiro é o que não falta no UK, tinha um grupo do nosso lado, um chorando a cada música e o outro, que já tinha assistido o show do Paul em Cardiff, anunciava todo o setlist antes da música seguinte começar! Um saco, pois o setlist estava no site dele e eu tinha evitado de olhar justamente para ter uma certa surpresa. Enfim, impecável! 3 horas de show com direito a 3 bis e inúmeras piadinhas sem graça mas das quais todo mundo ria! Paul estava en forme, sentido-se super a vontade no palco. Fez um show digno de Beatle. Dentre as músicas, os pontos altos foram I’ve Got a Feeling, Hey Jude, Day Tripper, Live and Let Die (com fogos de artificio!) e o final com The End. Passamos sede, pegamos sol e vimos Paul Mccartney.

Bem, chegando no albergue, quase todo o nosso quarto tinha ido pro show e então ninguém estava muito empolgado para sair, exceto nós. Como meu primeiro dia de trabalho era no dia seguinte e meu voo saia na mesma segunda 6:00 pela EasyJet (leia-se 7:00), resolvermos sair só para comer algo, ainda digerindo o impacto que o show tinha causado. E então, há exatamente 11 dias atrás, chegava eu no trabalho, morto de cansado, bronzeado e com minha mochila cheia de roupa suja. No final correu tudo bem e continuo aqui, apesar de não estar 100% empolgado com o estágio.

Hoje à noite estou partindo para Pamplona para ver o Festival de San Fermin, sem muitas expectativas e nem onde dormir. Acampar é proibido, mas vamos tentar. Uma outra saída é dormir no carro mesmo. A ver. No mais, comprei um carro aqui para poder fazer curtas viagens no verão francês, já que eu ainda não conheço a França tão bem quanto gostaria. Dentro de 2 semanas devo ir mais uma vez à Londres para me encontrar com o Zé que vai passar duas semanas la.

Bom, é isso ai. Dentro de 15 minutos vou almoçar e não trabalhei nada hoje depois de fazer a festa ontem a noite com uma galera do trabalho.

domingo, 6 de junho de 2010

palavras de uma moça

Da boca da moça a primeira palavra a ser escrita seria QUADRO, a última, uma cor: VERMELHO

Primeiros rabiscos, em poucos segundos, es o que surge:

Quadro abaixo da linha dos olhos
Nessa obra dos trópicos
ando pelo saguão,
ouvindo os passos ocos da minha sola
gasta pela ociosidade das ruas noturnas,
pela face iluminada no neon vermelho

outras palavras dessa boca -

Vida nessa nuvem vadia
levemente modelada na expressão do tempo
caminha vacilante em diferentes compassos
cortanto docemente as gotas da precipitada chuva,
de verão,
partindo em dois o céu azul

um sorriso discreto, bonito e mais duas palavras...

Nuca levemente povoada pela pelugem humana
aguça os poros cutâneos a expelir aquosamente
o trabalho diário de pescados
que não suará sem
sua rede e
nossa água.

terça-feira, 30 de março de 2010

La Marseillaise

Depois da quase certeza do abandono total do blog, não resisti e voltei! Na verdade não posso deixar de relatar aqui a viagem que fiz e da qual acabo de voltar. Depois de alguns tours que eu fiz sem escrever, Escandinávia, Suiça, a ida a Marseille nesse fim de semana teve algo de especial. Mas, antes disso, um breve resumé...

O primeiro semestre acabou e foi dada a partida para o segundo. Muitos partiram, alguns vieram, a vida corrida do intercâmbio não pára. Agora na faculdade, enquanto busco um estágio para os três meses de verão, estou acompanhado de todas as matérias chatas e inúteis do quarto ano de estudos. Fato esse que me desincentiva um pouco. Há chances que eu parta pra Lyon, ainda que não tenha nada certo. As tentativas na China, Japão e Alemanha parecem não ter dado muito certo, e a procura de um trabalho como estudante estrangeiro está um pouco mais difícil do que eu esperava. De fato, o período de duração que eu procuro oferece bastantes restrições pelas empresas europeias. Bem, agora, voltando ao acabou de se passar nos últimos dois dias...

Para começar, uma expêriencia nova: o Covoiturage. Na verdade ele consiste de um site de caronas organizado em que as pessoas pagam um preço razoável para viajar. Já posso imaginar as reclamações das mães-corujas-nervosas apontando mil perigos e motivos para não fazê-lo. De fato ouvi algumas histórias de histórias que as francesas contaram agora na carona de volta; mas só pelo fato de eu estar vivo prova que a ideia funciona. O incoveniente foi que eu fui em um carro de fumantes. O motorista, um cara figura com lá seus 30 anos e uma francesa na ida e duas na volta. É verdade que cada vez mais pego nojo de tudo relacionado ao cigarro. Pude contar 6 por parte dele na ida e 3 por parte dela. Enfim, carona tranquila; BMW meio caquética que, aliás, quase ferveu na volta; 40 euros ida e volta.

Chegando em Marseille fui muito bem acolhido pela amiga do Esteban, Albane. O primeiro é um amigo meu argentino aqui do INSA que mora em Recife. 36 anos, com espírito de 21, tá em todas! Ele a conheceu em Recife durante o ano de estudos dela lá. Quando pisei em Marseille ela já estava lá na estação de trem para me buscar. Fomos então para sua casa, na qual vivem seu primo e uma amiga francesa que morou no México também durante um ano. Todos muito simpáticos e, realmente, acho que foi a melhor recepção que tive por “desconhecidos” desde que cheguei na França. Fizemos tudo juntos: carnaval (isso mesmo, carnaval em Marseille! A ver pelos vídeos que fiz...), calanques, minichurrasco, volta pela cidade, jam session de Hava Naguila. Fizemos tudo juntos, exceto uma coisa, motivo pelo qual fui a Marseille em primeiro lugar.

Sábado 27 de março a noite. Palais des Congrès. 20:30. Aí chego de metrô e, após perguntar as direções do local para kebabeiros na rua, enfim chego à entrada. Uma exposição de violões no hall de entrada inicia o clima do espetáculo. Eu lá, sozinho, cheio de espectativas, na espera para presenciar tudo aquilo que tinha visto pelo youtube de um tal violonista chamado Tommy Emmanuel. Cadeiras reservadas como de costume privilegiam aqueles que têm mais contatos e/ou dinheiro. Me sentei na terceira fila bem no canto direito, onde o torcicolo é uma consequência inevitável no fim do show. O cara atrás de mim logo disse que seu violão tinha sido assinado por Tommy me desanimou um pouco. Ali eu soube que não teria mais a chance da fatídica foto-autógrafo-paporápido com o artista. Enfim. Após uma pausa de dez minutos para os fumantes (pois é, viva o câncer!) e de uma apresentação de Michel Haumont, um violonista francês muito bom mas sem muita presença de palco lá estava ele!

Desde a primeira nota até o último “Merci-Thank You” impecável! Sua presença de palco intraduzível pelo youtube aliado à sua música, 36 vezes mais impressionante que qualquer vídeo que eu tinha visto até então, fizeram desse show o melhor da minha vida. O show foi dividido pelos violões que ele tinha no palco. Eram quatro e, para cada um, uma surpresa diferente se mostrava. Através do primeiro as músicas menos conhecidas foram mostradas. O famoso thumb-picking e a alegria de tocar eram evidentes e contagiavam como nunca. Entre encenações, caras e bocas e sorrisos, o show começava. Segundo violão, uma história. Contava ele que estava com um amigo holandês que estava morrendo de câncer e que passaram todo o dia ouvindo músicas dos Beatles. No fim ele disse que queria que Tommy ficasse com seu violão. Em sua homenagem então ele nos mostrou o som desse instrumento especial. Não tinha jack, o que obrigou-o a sentar-se e começar o clássico Guitar Boogie com microfone e amplificador! Maldito microfone que estragou justo na hora do primeiro solo! Sem perder a compostura nem o ritmo, Tommy pegou com a mão esquerda o microfone da voz e o ajustou ao violão tentando vencer o feedback que chiava nos ouvidos, enquanto sua mão direita continuava a tocar! Aquela tensão no público aparentemente compartilhada pelo artista logo se mostrou equivocada quando que suas caras e bocas voltaram à cena. “Is it working now?” , perguntou ao fim da música. Aparentemente sim... Na prática, não! Na música seguinte o mesmo problema e a mesma solução! Mais uma vez sem perder a compostura, seus dedos voltaram a voar. Chega enfim o assistente de som para trocar o microfone, agradecido por mais um “Merci!” no meio da música. Talvez um pouco irônico, visto que logo depois ia mudar de instrumento e de que nada serviria a troca. A terceira parte do show já demonstrava um ambiente agradável e relaxado com ambos artista e público à vontade e se comunicando bem. A nossa timidez do público já tinha sido completamente vencida pela presença de palco e os aplausos e expressões do tipo “Ohh!” ou “É isso mesmo que eu estou vendo/escutando” já contaminavam a todos. Falta um violão, não?

Como se fosse impossível de ficar ainda melhor, o foi! Playlist africano no qual apresentou uma composição nova e a incrível Mombasa seguida de uma seção de batuques com direito a cabeçadas no microfone e tudo! Um ofegante agradecimento. Foi aí que o incrível começou. E chuta pra lá o apoio de guitarra mal regulado (eu estava esperando que ele fosse chutar o microfone antes)! Deixando o violão no chão, começa a viagem pela selva através de “Australian Aborygen”. Com um check no youtube dá pra ter uma leve idéia do que se passou naquele momento. Os beatlecovers clássicos ganharam então espaço depois de um inconveniente “How about Lady Madonna?” respondido por um “Man, I was just about to play it!”.

Entre risos, piadas e situações entre e durante as músicas, um show incrível finalizado por Amazing Grace (com o devido chute no microfone e um “Now it’s working!”) e um bis com todos de pé aplaudindo! Ao sair, gravando sozinho com a camera um registro do que tinha presenciado lá dentro, me deparei com 3 brasileiros e pude compartilhar em português o momento indescritível em qualquer língua.

E assim termina o hino. Definitivamente um must-do.

segunda-feira, 1 de março de 2010

sonho.

Acredito ter sonhado mais. Porém, só me lembro da parte final de um sonho. Estava eu em um aeroporto (pela porta de entrada me parecia um aeroporto) e na porta de entrada uma homem parecido com o Seu Madruga, um pouco mais jovem, começa a ler um artigo seu de uma revista de viagem. É sobre sua experiência pelas paisagens da Africa do Sul - ele lê de uma forma estranha seu próprio texto, nesse momento o sonho vira as páginas da revista, posso ver as fotos dos lugares que ele cita. No decorrer do texto noto que ele é um surfista que, aproveitando seu esporte, decide andar por outros lugares. Ele narra sua chegada em uma ilhazinha que me parece se situar em um arquipélago rondado por águas transparentes. Nesse momento eu participo dessa paisagem e passo a ouvir uma voz feminina, uma voz parecida com as de guia de viagem. A voz do surfista pergunta a ela se é possível entrar na água. Ela responde em inglês que não pode devido a frágil vida dentro daquelas águas. Agora estou sozinho. Sem vozes e sem a presença do surfista. Ando pela beirada, observando a coloração roxa-fosflorescente dos corais e os pequenos peixes que pareciam ter saído da época pré-histórica. Lembro de ter pensado que aquele cenário se assemelhava aos do filme Avatar. De alguma forma uma criança está do meu lado, é quase um bebê, mas já anda. Um siri com tentáculos de polvo começa a se aproximar de nós. Uma voz surge aconselhando ficar distante do animal pois ele é muito perigoso. Saimos correndo em direção à uma fogueira que estava acesa no alto do declive, o dia se esgotava e o céu já começava a ficar escuro. Corremos declive acima, mas a areia grossa impedia que fossemos mais rápido e o cansaço começava a dar sinais. O animal parecia acostumado com o terreno e a cada momento se aproximava mais e mais. Peço para a criança correr e fugir do animal. De repente ela se aproxima da fogueira e ela começa a pegar fogo, cai no chão, e no lugar do abdômem um vazio. Ele agonizava. Fiquei desesperado. Alguém de cavalo, que me parecia ser da minha família, pega o menino e sai em galope. Eu acompanho de alguma maneira. Ele está morrendo. O homem para em uma casinha. O homem parece ser entendido de medicina. Lá dentro ele começa a cuidar do menino. A porta entreaberta me dá a metade da visão. Eu saio de perto ouvindo os berros e choro. O homem fala que a coisa está feia. Eu ameaço um começo de choro. As costelas do bebe estão a vista e ele começa a se desfazer. A morte é inevitável.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Diario de viagem 15.01.10

Com as folhas de meu caderno se desfazendo deixo marcado aqui meu alívio. Depois de quase duas horas esperando no frio da humilde estação rodoviaria de Aachen meu ônibus, finalmente, chegou.
São 22:25 e estamos agora parados em algum lugar de língua francesa, não sei se ainda é Belgica ou França.
A estrada é ótima, toda iluminada por luzes alaranjadas - uma sensação de viagem futurística...
Permaneço em um estado de vazio. Todo meu corpo fica atento diante das coisas que acontecem ao meu redor. Tento, sem muito sucesso, me desligar um pouco dos detalhes e pensar nos projetos que tenho por fazer. Não adianta, fico absorvendo cada fala estrangeira, olhando cada reflexo das luzes noturnas que passeiam pelo reflexo da minha janela, sentindo o balançar do ônibus tentando medir o tamanho de cada imperfeição da pista, sentindo também os cheiros que as pessoas trazem ao passar pelo estreito corredor, olhando as placas, a paisagem. (...)

sábado, 9 de janeiro de 2010

Aachen.

Foi aquela tranquilidade de ver minha pegada na neve. A cidade debaixo da fofa camada branca se apresenta alegre ; estou em Aachen, na Alemanha. Dessa vez não estou num albergue, solitário em quartos de 20 camas com seus 20 cheiros, 20 línguas, 20 diferentes horários e 20 destinos. A casa de meu tio se mostra um lugar agradável para repolsar minhas inquietações e meu olhar estrangeiro para uma cidade tão admirável.

Sigo as ruas sem me preocupar com nada. Tento, talvez, marcar, a cada nova esquina, pontos de referência para me localizar quando me perder. Na minha frente um menino anda lentamente, resolvo segui-lo; o frio pararece não apresar as pessoas daqui, o menino de casaco preto e andar adolescêntico para no sinal de pedestre, nenhum carro vem, do outro lado pessoas encasacadas esperam tranquilas o verde boneco andante. Todos se cruzam e eu sigo na TheatreStraße – mantenho uma distância de 4 metros do menino até ele virar repentinamente e entrar na portaria de seu prédio. As ruas no centro estão sempre cheias, as lojas com calefação são um convite para entrar e estando dentro de uma é difícil não sair com uma sacola na mão. Outro dia mesmo me vi com um doce típico alemão que, inclusive o nome já indica sua naturalidade, Berlinder.

Outro dia, ontem, meu dedo no mapa indicava a Wilhelmstr., uma rua próxima a estação ferroviária. Nela há um museu. Em sua fachada havia um cartaz de uma exposição que me chamou a atenção, entrei. Roger Miles, fotógrafo alemão que se dedicou registrar a Alemanha nas décadas de 70 e 80 – olhava com calma cada foto, tentando entender qual teria sido a relação do fotógrafo com cada espaço e elementos ali fixados. Um casal de alemães discursavam minutos a cada nova foto que viam, fiquei curioso para saber sobre o que tanto falavam – de entender e querer compartilhar um pouco da história e suas experiências que cada foto os lembravam.

Sinto que estou em uma outra viagem ou, para ser menos radical nisso que disse, em uma outra sintonia de viagem que nunca tinha experimentado antes. O filme Paris, Texas não sai de minha cabeça; essa temática da viagem em busca da uma identidade me é forte. Enfim, me resta daqui a pouco me por novamente na dinâmica da viagem que vinha tendo…em poucos dias será Aachen, Paris.