terça-feira, 30 de março de 2010

La Marseillaise

Depois da quase certeza do abandono total do blog, não resisti e voltei! Na verdade não posso deixar de relatar aqui a viagem que fiz e da qual acabo de voltar. Depois de alguns tours que eu fiz sem escrever, Escandinávia, Suiça, a ida a Marseille nesse fim de semana teve algo de especial. Mas, antes disso, um breve resumé...

O primeiro semestre acabou e foi dada a partida para o segundo. Muitos partiram, alguns vieram, a vida corrida do intercâmbio não pára. Agora na faculdade, enquanto busco um estágio para os três meses de verão, estou acompanhado de todas as matérias chatas e inúteis do quarto ano de estudos. Fato esse que me desincentiva um pouco. Há chances que eu parta pra Lyon, ainda que não tenha nada certo. As tentativas na China, Japão e Alemanha parecem não ter dado muito certo, e a procura de um trabalho como estudante estrangeiro está um pouco mais difícil do que eu esperava. De fato, o período de duração que eu procuro oferece bastantes restrições pelas empresas europeias. Bem, agora, voltando ao acabou de se passar nos últimos dois dias...

Para começar, uma expêriencia nova: o Covoiturage. Na verdade ele consiste de um site de caronas organizado em que as pessoas pagam um preço razoável para viajar. Já posso imaginar as reclamações das mães-corujas-nervosas apontando mil perigos e motivos para não fazê-lo. De fato ouvi algumas histórias de histórias que as francesas contaram agora na carona de volta; mas só pelo fato de eu estar vivo prova que a ideia funciona. O incoveniente foi que eu fui em um carro de fumantes. O motorista, um cara figura com lá seus 30 anos e uma francesa na ida e duas na volta. É verdade que cada vez mais pego nojo de tudo relacionado ao cigarro. Pude contar 6 por parte dele na ida e 3 por parte dela. Enfim, carona tranquila; BMW meio caquética que, aliás, quase ferveu na volta; 40 euros ida e volta.

Chegando em Marseille fui muito bem acolhido pela amiga do Esteban, Albane. O primeiro é um amigo meu argentino aqui do INSA que mora em Recife. 36 anos, com espírito de 21, tá em todas! Ele a conheceu em Recife durante o ano de estudos dela lá. Quando pisei em Marseille ela já estava lá na estação de trem para me buscar. Fomos então para sua casa, na qual vivem seu primo e uma amiga francesa que morou no México também durante um ano. Todos muito simpáticos e, realmente, acho que foi a melhor recepção que tive por “desconhecidos” desde que cheguei na França. Fizemos tudo juntos: carnaval (isso mesmo, carnaval em Marseille! A ver pelos vídeos que fiz...), calanques, minichurrasco, volta pela cidade, jam session de Hava Naguila. Fizemos tudo juntos, exceto uma coisa, motivo pelo qual fui a Marseille em primeiro lugar.

Sábado 27 de março a noite. Palais des Congrès. 20:30. Aí chego de metrô e, após perguntar as direções do local para kebabeiros na rua, enfim chego à entrada. Uma exposição de violões no hall de entrada inicia o clima do espetáculo. Eu lá, sozinho, cheio de espectativas, na espera para presenciar tudo aquilo que tinha visto pelo youtube de um tal violonista chamado Tommy Emmanuel. Cadeiras reservadas como de costume privilegiam aqueles que têm mais contatos e/ou dinheiro. Me sentei na terceira fila bem no canto direito, onde o torcicolo é uma consequência inevitável no fim do show. O cara atrás de mim logo disse que seu violão tinha sido assinado por Tommy me desanimou um pouco. Ali eu soube que não teria mais a chance da fatídica foto-autógrafo-paporápido com o artista. Enfim. Após uma pausa de dez minutos para os fumantes (pois é, viva o câncer!) e de uma apresentação de Michel Haumont, um violonista francês muito bom mas sem muita presença de palco lá estava ele!

Desde a primeira nota até o último “Merci-Thank You” impecável! Sua presença de palco intraduzível pelo youtube aliado à sua música, 36 vezes mais impressionante que qualquer vídeo que eu tinha visto até então, fizeram desse show o melhor da minha vida. O show foi dividido pelos violões que ele tinha no palco. Eram quatro e, para cada um, uma surpresa diferente se mostrava. Através do primeiro as músicas menos conhecidas foram mostradas. O famoso thumb-picking e a alegria de tocar eram evidentes e contagiavam como nunca. Entre encenações, caras e bocas e sorrisos, o show começava. Segundo violão, uma história. Contava ele que estava com um amigo holandês que estava morrendo de câncer e que passaram todo o dia ouvindo músicas dos Beatles. No fim ele disse que queria que Tommy ficasse com seu violão. Em sua homenagem então ele nos mostrou o som desse instrumento especial. Não tinha jack, o que obrigou-o a sentar-se e começar o clássico Guitar Boogie com microfone e amplificador! Maldito microfone que estragou justo na hora do primeiro solo! Sem perder a compostura nem o ritmo, Tommy pegou com a mão esquerda o microfone da voz e o ajustou ao violão tentando vencer o feedback que chiava nos ouvidos, enquanto sua mão direita continuava a tocar! Aquela tensão no público aparentemente compartilhada pelo artista logo se mostrou equivocada quando que suas caras e bocas voltaram à cena. “Is it working now?” , perguntou ao fim da música. Aparentemente sim... Na prática, não! Na música seguinte o mesmo problema e a mesma solução! Mais uma vez sem perder a compostura, seus dedos voltaram a voar. Chega enfim o assistente de som para trocar o microfone, agradecido por mais um “Merci!” no meio da música. Talvez um pouco irônico, visto que logo depois ia mudar de instrumento e de que nada serviria a troca. A terceira parte do show já demonstrava um ambiente agradável e relaxado com ambos artista e público à vontade e se comunicando bem. A nossa timidez do público já tinha sido completamente vencida pela presença de palco e os aplausos e expressões do tipo “Ohh!” ou “É isso mesmo que eu estou vendo/escutando” já contaminavam a todos. Falta um violão, não?

Como se fosse impossível de ficar ainda melhor, o foi! Playlist africano no qual apresentou uma composição nova e a incrível Mombasa seguida de uma seção de batuques com direito a cabeçadas no microfone e tudo! Um ofegante agradecimento. Foi aí que o incrível começou. E chuta pra lá o apoio de guitarra mal regulado (eu estava esperando que ele fosse chutar o microfone antes)! Deixando o violão no chão, começa a viagem pela selva através de “Australian Aborygen”. Com um check no youtube dá pra ter uma leve idéia do que se passou naquele momento. Os beatlecovers clássicos ganharam então espaço depois de um inconveniente “How about Lady Madonna?” respondido por um “Man, I was just about to play it!”.

Entre risos, piadas e situações entre e durante as músicas, um show incrível finalizado por Amazing Grace (com o devido chute no microfone e um “Now it’s working!”) e um bis com todos de pé aplaudindo! Ao sair, gravando sozinho com a camera um registro do que tinha presenciado lá dentro, me deparei com 3 brasileiros e pude compartilhar em português o momento indescritível em qualquer língua.

E assim termina o hino. Definitivamente um must-do.

segunda-feira, 1 de março de 2010

sonho.

Acredito ter sonhado mais. Porém, só me lembro da parte final de um sonho. Estava eu em um aeroporto (pela porta de entrada me parecia um aeroporto) e na porta de entrada uma homem parecido com o Seu Madruga, um pouco mais jovem, começa a ler um artigo seu de uma revista de viagem. É sobre sua experiência pelas paisagens da Africa do Sul - ele lê de uma forma estranha seu próprio texto, nesse momento o sonho vira as páginas da revista, posso ver as fotos dos lugares que ele cita. No decorrer do texto noto que ele é um surfista que, aproveitando seu esporte, decide andar por outros lugares. Ele narra sua chegada em uma ilhazinha que me parece se situar em um arquipélago rondado por águas transparentes. Nesse momento eu participo dessa paisagem e passo a ouvir uma voz feminina, uma voz parecida com as de guia de viagem. A voz do surfista pergunta a ela se é possível entrar na água. Ela responde em inglês que não pode devido a frágil vida dentro daquelas águas. Agora estou sozinho. Sem vozes e sem a presença do surfista. Ando pela beirada, observando a coloração roxa-fosflorescente dos corais e os pequenos peixes que pareciam ter saído da época pré-histórica. Lembro de ter pensado que aquele cenário se assemelhava aos do filme Avatar. De alguma forma uma criança está do meu lado, é quase um bebê, mas já anda. Um siri com tentáculos de polvo começa a se aproximar de nós. Uma voz surge aconselhando ficar distante do animal pois ele é muito perigoso. Saimos correndo em direção à uma fogueira que estava acesa no alto do declive, o dia se esgotava e o céu já começava a ficar escuro. Corremos declive acima, mas a areia grossa impedia que fossemos mais rápido e o cansaço começava a dar sinais. O animal parecia acostumado com o terreno e a cada momento se aproximava mais e mais. Peço para a criança correr e fugir do animal. De repente ela se aproxima da fogueira e ela começa a pegar fogo, cai no chão, e no lugar do abdômem um vazio. Ele agonizava. Fiquei desesperado. Alguém de cavalo, que me parecia ser da minha família, pega o menino e sai em galope. Eu acompanho de alguma maneira. Ele está morrendo. O homem para em uma casinha. O homem parece ser entendido de medicina. Lá dentro ele começa a cuidar do menino. A porta entreaberta me dá a metade da visão. Eu saio de perto ouvindo os berros e choro. O homem fala que a coisa está feia. Eu ameaço um começo de choro. As costelas do bebe estão a vista e ele começa a se desfazer. A morte é inevitável.